terça-feira, 25 de agosto de 2009

A recessão acabou?

Pulicamos artigo de João Marcus Marinho Nunes sobre a recessão. Boa Leitura!

Há pouco mais de um mês, Robert Gordon, da Universidade Northwestern e membro do comitê do NBER responsável por datar o ciclo econômico desde 1978, escreveu nota discutindo a estreita relação que descobriu existir entre os picos cíclicos dos novos pedidos de seguro desemprego (medido na forma da média móvel de quatro semanas) e o piso da recessão. Sua conclusão:
“É sempre arriscado tirar conclusões definitivas, mas o pico recente nos novos pedidos de seguro desemprego que se manifestou na primeira semana de abril se assemelha bastante aos picos observados nas recessões anteriores para me permitir concluir que um novo pico de fato ocorreu... Esse raciocínio me leva a concluir que o piso da recessão deve se dar em maio ou junho de 2009, bem mais cedo do que esperado pela maioria dos previsores profissionais...”
A comparação é feita tomando como base as últimas cinco recessões – 1973/75, 1980, 1981/82, 1990/91, e a de 2001. É óbvio, como diz Gordon, que se o NBER usasse os dados de novos pedidos como um dos critérios para determinar a data do fim da recessão, essa “descoberta” seria tautológica. No entanto, tendo participado do comitê por mais de 30 anos, Gordon atesta que nunca foi dada a menor consideração nas deliberações aos dados de novos pedidos ou mesmo à taxa de desemprego. Segundo Gordon, o nível corrente do emprego (NFP) está entre as quatro variáveis de frequência mensal que são consideradas pelo comitê, mas como poderemos observar adiante, esta variável não guarda qualquer relação com os novos pedidos de seguro desemprego.
O painel 1 mostra o comportamento dos novos pedidos de seguro desemprego (novos pedidos) durante as 10 semanas anteriores e posteriores ao pico (denotado pela linha pontilhada verde). A linha cheia vermelha denota o final da recessão estabelecida como ocorrendo na terceira semana do mês de referência.
O pico de novos pedidos ocorre de 4 semanas (recessão de 2001) a 6 semanas (recessões de 1973/75, 1980, 1990/91). Na recessão de 1990/91, o pico de novos pedidos se dá 2 semanas após o término da recessão.
Na recessão em curso, a queda dos novos pedidos depois do pico é “suave”. Mas isso também ocorreu após o pico na recessão de 1973/75 e, de certa forma, após o pico na recessão de 1980. Essa característica contrasta com a forte queda de novos pedidos após o pico nas recessões de 1981/82, 1990/91 e 2001. Não vou especular sobre possíveis razões, mas como observei acima, essa característica não guarda relação com o nível de emprego como talvez fosse natural de se pensar.
Isso pode ser observado no painel 2, que mostra o comportamento do emprego (NFP) do momento em que a recessão oficialmente tem início até 10 meses após o seu fim,assinalado pela linha vermelha.
Nas recessões de 1973/75, 1980 e 1981/82, o emprego começa a subir concomitantemente ou logo após o fim da recessão. Nas recessões de 1990/91 e 2001, o comportamento do emprego é bem distinto continuando a cair e permanecendo baixo por longo tempo após o fim da recessão.
Note que nas recessões de 1990/91 e 2001, isso se dá apesar da forte queda de novos pedidos como pode ser observado no Painel 1. No sentido oposto, na recessão de 1973/75 ou de 1980, a relativamente forte recuperação do emprego não impede uma lenta queda dos novos pedidos. Assim, não podemos relacionar o comportamento do emprego com o de novos pedidos.
O painel 3 mostra o comportamento do PIB durante e nos 3 trimestres seguintes ao final da recessão (assinalado pela linha vermelha). Com exceção da recessão de 2001 (em que o PIB caiu um único trimestre e não ficou negativo na comparação anual), em todos os outros casos a tendência do PIB inverte com o final da recessão.
Assim, se não houver nenhum “cisne negro” no caminho, o PIB deve mostrar crescimento no 3º trimestre de 2009, com o fim da recessão (posteriormente) sendo decretada como tendo ocorrido em maio ou junho de 2009.
Essa “conclusão” é consistente com as indicações que estão sendo dadas pela razão consumo (de não duráveis e serviços)-PIB como discuti recentemente. Em resumo, como essa razão está acima da sua média (constante) de longo prazo, o PIB deve crescer para trazer a razão de volta à média.

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*João Marcus Marinho Nunes – 5 de junho de 2009

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