domingo, 24 de maio de 2009

Educando e Formando Investidores

Publicamos artigo de Robert Dannenberg sobre educação de investidores. Boa Leitura!

Quando criamos a Expo Money, em 2003, percebemos que antes de falar de investimentos precisávamos falar de educação financeira, ou seja, era preciso primeiro aprender a fazer a conta fechar para fazer sobrar. Foi a partir desse momento que o evento tomou dimensões maiores e passou a levar a educação financeira para o público, com o objetivo de ajudar as pessoas a conquistarem a sua independência financeira e a ampliarem o conhecimento sobre planejamento das finanças pessoais e da família.
Nesses seis anos de Expo Money pelo Brasil afora mais de 230 mil pessoas participaram da programação de palestras gratuitas. O nosso principal termômetro para medir os resultados desse trabalho é o crescimento da pessoa física na Bolsa de Valores. Na nossa primeira edição eram pouco mais 85 mil e agora são mais de 520 mil investidores individuais. Sabemos que temos muito trabalho pela frente, mas hoje falar sobre o assunto tornou-se mais fácil para as pessoas.
O tema Finanças Pessoais e Investimentos, com a economia estável, também ganhou espaço na mídia e vem estampando capas de revistas, jornais e virou pauta em muitos programas de televisão e rádio. Houve uma mudança de perfil e a página de economia deixou de ser um assunto árido e passou a fazer parte de um bate papo com amigos. Isso gerou mais demanda por informação e as mídias resolveram criar ou dedicar um espaço diferenciado para os investidores individuais, com uma linguagem acessível e de fácil compreensão.
Nessa mesma linha, além de realizarmos eventos em 11 capitais do país, com o conceito de educar e formar investidores, lançamos em parceira com a Campus/Elsevier uma Coleção de Livros de finanças pessoais e investimentos. A série com os próprios palestrantes dos eventos e traz 18 títulos que abordam temas desde a educação financeira para crianças até como investir em opções ou esticar seu dinheiro. Leitura indispensável para quem buscar investir na sua educação financeira.
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*Robert Dannenberg, um dos idealizadores e responsáveis pela expomoney. A expomoney realiza um importante trabalho de divulgar práticas de educação financeira no Brasil.Parabéns Robert.
E-mail para contato: robert@tradenetwork.com.br
www.vinhooutlet.com.br

As lacunas da governança: o imponderável prevalece

Publicamos artigo de Luiz Calado sobre Governança Corporativa. Boa leitura!

Recentes acontecimentos relacionados a grandes empresas brasileiras levantaram uma questão essencial: qual o atual estágio da governança corporativa no Brasil? Entraram em debate mercado, reguladores, acionistas, empresas e imprensa. Porém, é importante perceber a necessidade de se passar por um processo de aperfeiçoamento cauteloso. É preciso afastar a euforia causada pelos escândalos e tornar a discussão racional, sob pena de atropelar o processo natural de evolução que se apresenta. Não é saudável que os acontecimentos desastrosos causem um movimento desordenado pela necessidade de se apontar soluções para um mercado volátil em função da perda de credibilidade.
Não se trata de uma oportunidade da crise, para não cair em clichês. Trata-se, sim, dos ciclos evolutivos do mercado. Para evoluir, é preciso, antes de tudo, admitir que existe espaço para tanto. Não é preciso fazer disso um drama, uma anti-epopeia, tentando apregoar um cenário decadente, como tentam algumas autoridades no assunto. Estão querendo mostrar as vísceras expostas do mercado, enquanto o que está em andamento é um movimento natural dos ciclos evolutivos, que pode ser chamado, talvez, de ressaca. A festa foi grande durante meses, e até anos. É preciso ter um dia seguinte para recuperação física e moral.
Os tempos atuais representam o dia seguinte, tão inevitável quanto necessário. Ainda existem, por exemplo, algumas empresas controladas por profissionais sem a qualificação necessária, posto que foram indicados e nomeados por políticos. Neste caso, como tais cargos teriam a independência que o mercado exige, se vivem no fogo cruzado entre o conflito de interesses, enquanto deveriam prezar pelo interesse dos acionistas?
A crise mostra-se o embrião dos questionamentos que levam à evolução. Como nossos hermanos fazem, é preciso empregar a interrogação no início e ao final da frase. Sinaliza-se, com isso, a necessidade de entender os fatos antes e depois dos acontecimentos. Nasce a percepção da necessidade de um amplo debate na busca de mecanismos mais competentes de transparência nas políticas de investimentos. Entre uma ou outra direção para as quais apontam entidades e órgãos do mercado, o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) demonstra uma iniciativa diretamente direcionada ao ponto frágil. A certificação de conselheiros é um ato no sentido de aprimorar o segmento, ação que devemos nos orgulhar, cujo efeito positivo será percebido, sobretudo, quando o mercado voltar ao ciclo de crescimento. Certamente esta iniciativa permitirá diferenciar o Brasil, frente aos outros países em desenvolvimento.
Para além dos profissionais de conselhos, é importante o foco nos profissionais da regulação. É claro para todos os envolvidos o papel que a regulação exerce no confiança do investidor? Se não são os reguladores que dão segurança ao investidor, para que ele se sinta confiante em comprar papéis na bolsa, quem pode fazer isso? Empresas têm, sim, o seu papel essencial, mas estão expostas ao processo de aprendizado, no qual o norte são as obrigações criadas pelos órgãos reguladores. Enquanto noticiários anunciam catástrofes no mercado, a regulação é a nascente da confiança do investidor. Se ele conhecer o ambiente em que está inserido, e sentir segurança de que há alguma racionalidade no mercado, terá condições de controlar a própria euforia para tomar a atitude mais correta. Somente o arcabouço legal pode dar ao investidor a sensação de amparo e proteção necessários para evitar o trágico efeito manada.
Ao que parece, nem todos os profissionais percebem que a regulação não é um trabalho burocrático, mas que é feita por meio do aprendizado direcionado pelos erros. Se o mercado ainda navegasse no mesmo mar de rosas dos últimos anos; se a crise tivesse adiado sua explosão, o estrago seria potencializado pelo tempo de persistência nas mesmas falhas cometidas, não por falta de profissionalismo, mas pela ilusão do alto nível que a governança parecia ter atingido, enquanto amparada pela perfeição das condições de mercado nos meses passados. Viradas tais condições para uma situação incerta, restaram as lacunas a serem preenchidas.
O Black Swan, ou cisne negro, indica nossa incapacidade em prever certas coisas. Por mais que nosso processo cognitivo imponha cenários previsíveis, o imponderável prevalece: afinal, quem imaginaria dois dos edifícios mais importantes dos EUA seriam alvejados, no mesmo dia, por aviões? Numa ação desesperada, muitos culpam os economistas pela crise. No entanto, numa analogia com a medicina, é quando surge a doença que os médicos são mais importantes.
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*Luiz Roberto Calado, faz doutorado em finanças e sustentabilidade na Universität Bonn, é mestre em administração e economista (USP). É Gerente de Certificação e Educação da ANBID e Vice-presidente do IBEF. Autor dos livros “Regulação e Autorregulação do mercado financeiro: conceito evolução e tendências num contexto de crise” e “100 dúvidas sobre carreira para executivos de finanças”

Email de contato: www.calado.wikispaces.com

sábado, 16 de maio de 2009

O Conselho Fiscal contribui para Governança Corporativa e agrega valor

Publicamos excelente artigo de Sérgio Tuffy Sayeg sobre Conselho Fiscal. Boa Leitura!

A questão de instalação, funcionamento e contribuições do Conselho Fiscal nas companhias abertas costuma retornar de tempos em tempos aos debates e reavaliações dos investidores.
Isso costuma acontecer, além da época que se aproxima de realização das assembleias gerais para aprovação de contas, quando normalmente se instala e são eleitos os membros do Conselho Fiscal, também no caso da ocorrência de situações tidas como extraordinárias.
É o que se verificou recentemente, com a exposição de inúmeras companhias a riscos e perdas relevantes com determinados instrumentos financeiros mais sofisticados, como derivativos associados à variação cambial, que se demonstrou não terem recebido o devido tratamento técnico e de controle por parte de Conselhos de Administração e seus comitês, de Diretorias Executivas, de Conselhos Fiscais e também de Auditorias.
O caso de uma dessas empresas, que se destacou entre os recentes episódios e cujo padrão de Governança Corporativa já era bastante questionado pelos investidores, fica ainda mais negativamente evidenciado quando se lê no site de relações com investidores o que cabe ao seu Conselho Fiscal: “A principal atribuição do Conselho Fiscal, formado por três membros efetivos e três suplentes, é identificar as oportunidades, sempre que possível, para reduzir os custos tributários, propondo soluções aos impactos e às contingências permanentemente impostos pela legislação e por normas fiscais vigentes.”. Definitivamente, mas para dizer pouco, não é o que dispõe a Lei!
Cabe lembrar que, adicionalmente à obrigatória manifestação em parecer sobre as demonstrações financeiras, notas explicativas e relatório da administração, destaca-se como parte importante das contínuas atribuições do Conselho Fiscal, entre muitas outras, a necessidade de atentar permanentemente para o processo decisório de investimentos, inclusive financeiros, e a existência de adequadas ferramentas de controle de riscos.
Essas situações inaceitáveis devem servir, no mínimo, para renovar e ampliar a atenção dos investidores, e dos próprios membros de Conselho Fiscal, para a diversidade e complexidade de cenários e condições de negócios que vão continuar se apresentando e exigindo rigoroso acompanhamento e fiscalização eficaz das atividades corporativas.
A legislação societária atribuiu poderes individuais aos conselheiros fiscais, de modo que estes não tenham limitação na sua função de fiscalização como representantes de acionistas que não participam da gestão.
Independentemente de terem sido eleitos por acionistas minoritários ou por grupos de controle, os requisitos de ampla independência e capacidade técnica, que precisam estar sempre presentes nas qualidades dos profissionais que compõem o Conselho Fiscal, devem proporcionar conforto a todas as partes interessadas, complementando o próprio aspecto psicológico de funcionamento daquele órgão.
Mais uma vez, entretanto, boa parte dos progressos dependerá da efetiva manifestação de vontade dos investidores para que posturas adequadas e resultados positivos sejam alcançados.
É importante também registrar que as competências legais e estatutárias de fiscalização do Conselho Fiscal já vêm sendo, em benefício geral, ampliadas espontaneamente em número crescente de companhias. A reunião periódica com o Conselho de Administração, com objetivo de se alcançar contribuição mútua na compreensão de certos temas não é, de forma alguma, avanço indevido nas respectivas alçadas e obrigações. Da mesma forma, sem que represente interferência nas decisões relativas ao direcionamento estratégico e gestão, a Diretoria pode considerar o Conselho Fiscal como mais uma instância de diálogo.
Os investidores só têm a ganhar com um relacionamento produtivo e o alinhamento do interesse comum entre esses órgãos da companhia, na busca de genuína transparência, resultados sólidos e crescimento sustentado.
O Conselho Fiscal, atuando em caráter permanente e nesses moldes modernos, muito contribui para elevação dos padrões de Governança Corporativa, transmite maior credibilidade ao mercado e agrega importante valor às companhias brasileiras e seus acionistas.
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* Sérgio Tuffy Sayeg é administrador pela FEA – USP e profissional do mercado financeiro e de capitais desde 1976. Conselheiro de Administração e Conselheiro Fiscal de empresas. Professor de cursos do IBMEC RJ e da Fundação Instituto de Administração – FIA.
Artigo publicado no “Valor Econômico” em 10 de março de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

Marolinha ou tsunami?

Publicamos excelente artigo do Professor Flávio Málaga. Boa leitura!

Em setembro de 2008, em meio a especulações sobre o contagio que a turbulência financeira americana teria no mercado brasileiro, o Presidente Lula comentou que no Brasil teríamos no máximo uma marolinha. Mesmo considerando que meses se passaram desde então, que a névoa e as dúvidas que pairavam sobre a economia já se dissiparam, e que já temos certeza que enfrentaremos também uma turbulência, é valido o exercício de reavaliar os dados disponíveis em setembro e de analisar se poderíamos ter previsto este impacto relevante que a crise americana teria então no nosso mercado.
Analisando os dados da balança de pagamento dos últimos 20 anos, pode-se verificar que a troca de fluxos entre o Brasil e o exterior se intensificou de forma relevante neste período, relativamente ao PIB brasileiro. Observando-se ainda a relação entre a BOVESPA e a Bolsa de Nova York (NYSE), verifica-se ainda mais o aumento da integração entre os mercados. Desta forma, uma redução na atividade econômica mundial teria sim um impacto no Brasil, e a questão seria entender então a magnitude desta influência.
A balança de pagamentos é composta pelas transações correntes (exportações, importações, serviços, rendas e transferências unilaterais) e pelas contas capital e financeira (investimentos estrangeiros no Brasil e investimentos brasileiros no exterior).
Durante os últimos 20 anos, a soma das exportações e das importações passou de 12% do PIB para 21,4%. Este aumento indica que o Brasil passou a depender muito mais da economia dos demais países. Do lado das exportações, ainda representada em grande parte pelas commodities agrícolas e metálicas, verifica-se a dependência dos compradores externos. Pelo lado das importações, observa-se o impacto cada vez mais relevante das compras externas para a modernização de nossa base tecnológica e para a contenção da inflação (as importações supriram a demanda que o mercado interno não podia suprir durante a fase de crescimento do país).
Desta forma, uma queda da atividade econômica mundial naturalmente iria desacelerar as compras externas, tanto em termos de volume quanto de preço, derrubando nossas exportações, e impactando o nosso PIB e a nossa atividade econômica, já que as exportações tiveram uma relevância de 12,7% do PIB em 2007. Da mesma forma, a crise de crédito mundial, a desvalorização cambial e o encerramento no Brasil de linhas de financiamento à importação (FINIMP) causaram uma interrupção no fluxo de caixa das empresas brasileiras importadoras, que ou tiveram que buscar fontes alternativas de financiamento, a custos maiores, ou tiveram que interromper suas atividades abruptamente. Considerando que as importações tiveram uma relevância de 9,2% do PIB em 2007, esta freada sem dúvida causaria uma redução da atividade econômica.
Em relação aos investimentos estrangeiros no Brasil, seja de forma direta (em aquisição de participação societária ou empréstimos) ou de forma indireta (em carteira, via aquisição de ações e de títulos de renda fixa no mercado de capitais), observa-se também um crescimento relevante não só durante os últimos 20 anos, mas também durante os últimos 5. Enquanto que no final da década de 80 eles não representavam mais que 0,5% do PIB, em 2007 eles representaram 6,3%. Ou seja, a entrada de recursos externos passou a ter grande influencia no financiamento dos investimentos brasileiros, e portanto na expansão de nossa base tecnológica e de infraestrutura. Naturalmente, uma escassez de recursos externos, seja de propriedade ou de credores, teria um impacto relevante sobre o PIB, reduzindo de forma significativa o acesso a recursos por parte das empresas.
Os investimentos estrangeiros que ingressaram no Brasil para a aquisição de ações e debêntures (investimento em carteira), apesar de inicialmente parecerem investimentos especulativos, tem um papel fundamental para a evolução do nosso mercado de capitais e para a competitividade das empresas brasileiras. Estes investimentos dão liquidez para as ações e as debêntures, atraindo mais investidores para as bolsas, e portanto fazendo com que a emissão de títulos de propriedade e de dívidas por parte das empresas se torne uma opção viável para a captação de recursos. Em um país com um custo bancários tão elevado, estas fontes adicionais de financiamento adquirem um papel relevante para a competitividade das empresas. Sem estas fontes, muitas de nossas empresas não teriam conseguido realizar os investimentos relevantes que materializaram tanto no Brasil como no exterior. A fuga do capital estrangeiro em um momento de crise e a conseqüente queda no valor das ações e das debêntures das empresas são fenômenos naturais, e geram um custo e uma perda de riqueza na economia nestes momentos. Este custo é o preço que temos que pagar por termos acessado o mercado financeiro internacional. Cabe aos investidores entender este mecanismo de altas e baixas do mercado, e tomar decisões adequadas e que incorporem estes riscos.
A integração entre o mercado brasileiro e o mercado americano pode ainda ser verificada através da análise da relação entre a BOVESPA e a bolsa de valores de Nova York. Esta maior integração entre estas duas bolsas espelha justamente esta maior troca de fluxos entre os países, apontada anteriormente. Analisando a evolução da correlação[1] entre os retornos do índice BOVESPA e os retornos do índice NYSE COMPOSITE ao longo dos últimos 240 meses (20 anos), observa-se que a correlação passou de 0,20 para 0,90. Ou seja, durante os últimos 30 meses, os retornos da BOVESPA praticamente acompanharam os retornos do NYSE COMPOSITE INDEX, evidenciando a integração e a dependência do nosso mercado em relação ao mercado americano.
O Brasil se aproveitou da bonança internacional, vendendo mais ao exterior e atraindo os recursos disponíveis dos investidores internacionais. Estes recursos permitiram ao país alcançar taxas de crescimento de 4 ou 5% ao ano com inflação sob controle. Da mesma forma, é natural esperar que o país seja influenciado quando o mercado externo deixa de crescer ou se contrai e quando os investidores estrangeiros não se mostram dispostos a investir em mercados mais arriscados ou emergentes. E o Brasil não teria como evitar este contágio econômico, já que nossa economia está, como nunca antes, integrada a economia internacional. Os dados acima mostram justamente isso. Mesmo sabendo que nós não fomos os causadores da crise, o governo deve entender que o país se aproveitou do “jogo” financeiro e da riqueza internacional nos momentos que lhe interessou, e que para evitar este contágio, deverá, temporariamente, substituir o papel destes investidores e compradores na nossa economia.
[1] Correlação calculada para cada janela de 30 meses, iniciando em 31/1/1990.

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*Flávio Kezam Málaga é doutor e mestre em Finanças pela FEA/USP e professor de finanças corporativas do IBMEC-SP e da Fundação Instituto de Administração.

O que importa é a qualidade da política econômica

Nos sentimos muito honrados de publicar o excelente e muito interessante artigo do Professor João Marcus. Boa leitura !

A era moderna da política econômica tem início em 1961, por ocasião da posse do Presidente John Kennedy que trouxe como seu principal conselheiro econômico Walter Heller, professor da Universidade de Minnesota.
Heller revolucionou o CEA (Conselho Econômico da Presidência) orgão criado em 1946 junto com a aprovação da Lei do Emprego (Employment Act), uma consequência da Grande Depressão. O objetivo de Heller era o de acabar com o que chamou da “síndrome contracíclica” dos anos 1950 e centrar a política econômica nos objetivos de fechar o “hiato do produto” e promover o crescimento, ou seja, pretendia atingir o “potencial” da economia e em seguida aumentá-lo.
O conceito de “hiato” do produto foi obra de Arthur Okun, um importante membro do Conselho e que foi seu presidente no último ano da gestão Johnson (1968-69). Pelos cálculos de Okun, a taxa de desemprego consistente com o pleno emprego foi estabelecida em 4% (consistente com o observado em 1957, momento em que a economia estava no “potencial”). Como a taxa de desemprego no início de 1961 estava em 7%, o “hiato” do produto (diferença entre o PIB observado e o seu nível “potencial”) era elevado, ocasionando um desperdício de recursos valiosos (ver figura 1).
Coincidentemente, quando a taxa de desemprego volta a 4% em 1965 o PIB se encontra no seu nível “potencial”. Como a taxa de desemprego continuou a cair (atingindo 3.5% em 1968), o PIB evoluiu acima do seu “potencial”. Como a inflação começou a subir a partir de então (ver figura 2), temos até hoje a associação entre inflação e “hiato” positivo do produto.
Mas sabemos que a inflação tem origem monetária. A figura 3 mostra que depois de manter um crescimento baixo e estável, nos anos 1960 a expansão monetária (reservas) se acentua. É importante lembrar que quando assumiu a presidência com a morte de Kennedy em 22 de novembro de 1963, o Presidente Johnson propôs o Programa Grande Sociedade.
Como financiar isso paralelamente à guerra do Vietnam, que sofria uma escalada? A partir de 1966, o orçamento começa a apresentar déficits sistemáticos. O aumento de impostos para ajudar no financiamento da guerra não era visto com bons olhos. Além disso, logo no início de 1964, Johnson assinou a lei reduzindo impostos (que havia sido proposta por Kennedy). Um aumento da expansão monetária era a solução.
Depois de um período de inflação baixa e estável, as expectativas inflacionárias não existiam. No entanto, sabemos que uma hora a inflação vai aparecer..., e foi isso que aconteceu depois de 1965.
A idéia dos economistas dos Presidentes Kennedy e Johnson, de que a ciência econômica havia “conquistado o ciclo”, bem descrita no livro que Heller escreveu depois de deixar a presidência do CEA em 1964 – New Dimensions of Political Economy – e no livro escrito por Arthur Okun em 1969 – The Political Economy of Prosperity - se mostrou falsa e acabou gerando as condições que definiram o período da Grande Inflação nos anos 1970.
Assim como a persistência dos ciclos nos anos 1950 haviam induzido os esforços de Heller e Cia para domá-los, a persistência da inflação nos anos posteriores induziu um grupo de pesquisadores a desenvolver “soluções”. Nesse período testemunhamos o nascimento da teoria das expectativas racionais (segundo a qual, entre outras coisas, não existe trade-off entre desemprego e inflação), o postulado de mercados eficientes, a importância da credibilidade da autoridade monetária, entre outras.
O resultado desses esforços foi a redução permanente da inflação a partir do início dos anos 1980, com Paul Volker (seguido de Greenspan) no comando do Fed.
Como a bolsa refletiu esses acontecimentos? A figura 4 mostra o comportamento do Dow em três momentos, que estão associados aos diferentes “estilos” de política econômica. O primeiro período se estende até meados de 1965, a partir do qual a inflação tomou corpo.
Algumas observações são pertinentes. No primeiro gráfico, a bolsa praticamente não reage a eventos como o fiasco da Baía dos Porcos (tentativa de invadir Cuba) e à crise dos mísseis (ocasião em que por alguns dias temeu-se a ocorrência de um conflito nuclear entre os EUA e a União Soviética.
No entanto a reação é imediata e aguda ao pronunciamento do Presidente Kennedy contra a indústria siderúrgica (ver link para o YouTube anexo). Isso foi interpretado como uma tentativa de estabelecer a ingerência do governo no funcionamento dos mercados.
Nos anos da Grande Inflação (que tem início em meados de 1965 e se estende até meados de 1982), a bolsa fica “de lado”, com grandes flutuações em torno de uma média de 870 pontos. Nesse período temos o controle de preços de 1971/72, o fechamento da “janela do ouro” pelos EUA em 1971, o câmbio flutuante introduzido em 1973, os choques do petróleo, a inexistência de credibilidade de Arthur Burns, Presidente do Fed, entre outras razões que não permitiam aos agentes enxergar uma política econômica coerente e consistente.
Com a estabilização a partir de 1982, a bolsa entra numa longa trajetória de alta. A estabilização reduziu o risco macroeconômico. No entanto, o crash de 1987 foi um sinal de que, como argumentava Minsky (veja meu artigo anterior), “longos períodos de expansão econômica tendem a gerar excessos financeiros”.
A qualidade da política econômica parece ser um fator importante na determinação do comportamento do mercado. A Figura 5 é mais uma demonstração disso. Quando Roosevelt assumiu a presidência, no “fundo do poço” da Grande Depressão, o mercado se animou. No entanto, logo que foram implementadas as políticas do NIRA (National Industrial Recovery Act) a bolsa “ficou de lado”. O NIRA incentivava a cartelização, fixação de preços e restrições à concorrência. Quando o NIRA foi declarado inconstitucional pela Suprema Corte, a bolsa volta a subir.
Para um período de tempo equivalente, no início dos anos 1970, como já pudemos observar na figura 4, as más políticas econômicas – controles de preços, “stop and go” ação unilateral repudiando regras internacionais, entre outras - também mantiveram a bolsa estagnada.
A figura 6 compara o Dow no início da Grande Depressão com o que acontece atualmente.
Em 1929, a bolsa caiu 43% em 15 dias. Nova queda acontece quando os bancos começam a quebrar em outubro de 1930. Atualmente, a bolsa cai os mesmos 43% depois do evento Lehman. A diferença é que a queda acontece ao longo de seis meses.
A primeira apresentação do Plano Geithner (PPP) não foi bem recebida. Na segunda tentativa a bolsa volta ao “ponto de partida”. Vai continuar subindo? Vai depender das políticas econômicas e da percepção, por parte dos agentes, da “qualidade” destas.
Penso que as comparações com os anos 1930 não são adequadas. As ações de política são muito distintas. A figura 7 mostra a reação da política monetária.
Enquanto em 1930/32 a política fiscal se preocupou em evitar déficits (um enorme tabu à época), os estímulos fiscais hoje “abundam”. Mesmo Roosevelt reduziu gastos (e contraiu moeda) em 1936 quando a economia mostrava recuperação. Resultado: recessão “brava” em 1937/38! Até que a economia se refaça do choque não se pode “brincar em serviço”.
A figura 8 mostra que o comportamento dos preços no regime “Padrão-Ouro” é bem distinto daquele que vigora num regime de “Fiat Money” (moeda fiduciária). A figura 9 mostra que a alta e posterior queda do CPI acompanha a alta e posterior queda do petróleo, uma situação que reflete mudança drástica de preços relativos, não podendo ser considerada elevação da inflação no período de alta ou deflação no período de queda.
Em poucas palavras: Deflação nos dias atuais é algo difícil de ser construído. Um aumento da inflação é um resultado muito mais provável.
A figura 10, que contrasta a produção industrial (funcionando como elemento representativo da economia real), mostra que o “aprendizado” econômico dos últimos 60 anos tornou a economia muito mais estável. Uma lição que certamente será tirada da crise atual é a da necessidade de criar instituições que evitem (ou minimizem) os “boom-busts” financeiros (preços de ativos).
Em termos de PIB, a recessão que teve início em dezembro de 2007, em duração (17 meses ao final deste mês) já é a mais longa desde a de 1929/33 (Grande Depressão). Talvez por isso a “dita cuja” é tão evocada! A figura 11 mostra que em termos de crescimento ela (até aqui) é comparável à de 1990/91, estando ainda distante da queda de crescimento apresentada na recessão de 1981/82 (considerada até então a “pior” desde a GD).
Porque penso que já no segundo trimestre de 2009 o resultado do PIB pode surpreender (podendo até ser ligeiramente positivo trim/trim anterior)? E que possivelmente o PIB to 1º Trimestre será revisado para cima?
Existem poucas relações estáveis em economia. Uma delas é a relação entre consumo (bens não duráveis e serviços já que o consumo de bens duráveis tem características de “investimento”).
A figura 12 mostra essa “estabilidade” de duas maneiras. Na figura 12A vemos que PIB e Consumo evoluem “paralelamente” (isto é, não se distanciam indefinidamente). Em outras palavras, PIB e Consumo têm uma “tendência comum”. Na figura 12B constatamos que de fato a razão Consumo/PIB flutua em torno de uma “média” que se mantém estável.
Pode-se observar a “olho nu” (e isto é verificado através de testes estatísticos) na figura 12B que a variável que se “ajusta” para manter a relação é o PIB. Ou seja, quando a razão C/PIB cai abaixo da sua “média”, por exemplo, o crescimento do PIB no futuro se reduz para trazer a razão de volta para a “média”. Observe, por exemplo, que ao final dos anos 1990 a razão C/PIB cai abaixo da “média”. A queda do crescimento no início dos anos 2000 se “encarrega” de trazer a razão de volta para a “média”.
Observamos também na figura 12B que o período denominado Grande Moderação é caracterizado por flutuações muito menores da razão C/PIB (refletido em flutuações menores do próprio crescimento).
A figura 13 reproduz, para melhor visualização, a figura 12B para o período mais recente .
No 1º trimestre de 2009 a razão C/PIB subiu “muito”. Como vimos na figura 12, isso não pode (dado a estabilidade da razão que é predicada péla teoria, não sendo apenas uma questão empírica) continuar. Para trazer a razão de volta em direção à “média”, o PIB deverá subir no futuro. Ou seja, uma parte significativa da queda verificada no PIB no 1º trimestre é vista como temporária (ou contém erro significativo de medida o que estaria indicando que a revisão será para cima).
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*João Marcus Marinho Nunes – 8 de maio de 2009

Esforços para aperfeiçoamento do mercado de capitais em 2009

Publicamos hoje excelente artigo de Sérgio Tuffy Sayeg. Boa Leitura !

Ficou para o passado a abundância de recursos financeiros resultante das extraordinárias condições alcançadas pelo mercado de ações e os benefícios que haviam sido obtidos por grande número de empresas brasileiras que puderam, especialmente em 2006 e 2007, e ainda em raros casos durante 2008, captar volume de recursos sem precedentes para impulsionar o desenvolvimento de seus negócios.
Agora não parece tão difícil abrir os olhos para o que terá sido uma euforia excessiva naqueles momentos de ampla disponibilidade de capitais, em que chegavam a se realizar, na mesma semana, três ou quatro distribuições de ações.
As empresas emissoras poderiam, até em muitos casos, ter seus nomes conhecidos do público, mas em geral tinham seus fundamentos estratégicos, econômicos e financeiros praticamente ignorados.
Desde o início do movimento negativo originado pelos desdobramentos da crise verificada nos mercados imobiliário e financeiro norte-americanos, sucedida pela forte queda dos preços das commodities e a repercussão instantânea nas taxas de crescimento da economia global, as companhias brasileiras já vinham se deparando com um cenário adverso que requeria cuidados na gestão.
Tornaram-se públicos marcantes episódios de falta de responsabilidade da alta administração de emblemáticas companhias, que não atendiam aos mínimos requisitos de acompanhamento e controle de seus negócios e de suas finanças, repetindo, em momento inédito de escassez de recursos e alta volatilidade, condutas que no passado teriam apresentado resultado favorável.
Os investidores também demonstraram sua miopia e despreparo, pressionados que estavam com o difícil gerenciamento de suas carteiras e respectivos fluxos financeiros, sem mergulhar mais fundo no acompanhamento das empresas investidas além do que era visível sobre o passado, com a divulgação em periodicidade trimestral determinada pelas normas em vigor.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como autoridade, e as entidades de mercado que compõem o arcabouço da nossa tão festejada autorregulação também terão tido sua participação, com a falta de perspicácia e cuidados prudenciais no monitoramento da situação.
Mesmo com o avançado estágio que nossos mercados alcançaram, é notório que são também imprescindíveis o aperfeiçoamento das normas regulamentares e do posicionamento das empresas em relação aos riscos de diversas naturezas a que estejam expostas.
Todos devemos fazer sincera autocrítica e reflexão sobre os erros vividos e não deixar de aproveitar para fortalecer os importantes pilares até agora construídos, que serão muito importantes no momento da regularização do fluxo de recursos, que naturalmente privilegiará quem se demonstrar mais preparado para o maior rigor e senso crítico dos detentores de capital.
Não será recomendável confiar na tradicional falta de memória dos participantes do mercado, e na crença de que o lado negativo da história não se repetirá.
As empresas deverão se apresentar para essa fase de retomada com uma governança corporativa presente não apenas nos discursos e nos textos, mas sob a condução de um conselho de administração genuinamente profissional, pautado por efetiva competência técnica, profundidade analítica e dedicação. A diretoria executiva, sob uma liderança preparada, deverá comprovar sua capacidade em tempos difíceis e apresentar sintonia entre todos os setores e níveis da companhia, suportada por controles internos sofisticados mas capazes de ser acompanhados no dia-a-dia. Imprescindível também será a postura ética e de absoluta transparência, para buscar reconquistar a confiança de todos os stackeholders.
A vida corporativa, enfim, terá que ser diferente em 2009.
Com o envolvimento de todos os participantes e esforços contínuos para rápida adaptação a novas circunstâncias que surgirão, resultados positivos certamente serão alcançados e contribuirão para continuidade do fortalecimento do nosso mercado de capitais.
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* Sérgio Tuffy Sayeg é administrador pela FEA – USP e profissional do mercado financeiro e de capitais desde 1976. Conselheiro de Administração e Conselheiro Fiscal de empresas. Professor de cursos do IBMEC RJ e da Fundação Instituto de Administração – FIA.
Artigo publicado na “Gazeta Mercantil” em 19 de janeiro de 2009.

sábado, 2 de maio de 2009

Novos tempos para a Comunicação no Mercado de Capitais

Temos a honra de publicar com exclusividade excelente artigo do Jornalista e Economista Rodney Vergili. Boa Leitura!

O mercado de capitais no Brasil vive novos tempos. Os juros estão em queda. Os investidores cada vez mais seletivos e em busca de informações para a tomada de decisões. O país entra no radar dos investidores com o “investment grade” e com fundamentos que permitem a médio prazo liderar o grupo de países emergentes (BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China).
São TEMPOS em que palavras como T (transparência), E (equidade), M (melhores práticas no mercado de capitais), P (prestação de contas), O (Ouvidoria) e S (sustentabilidade) passam a ser a base das empresas líderes da economia nacional.
A comunicação financeira está cada vez mais valorizada. As empresas que investem em comunicação e inovam ganham espaço no mercado das lentas, fechadas e burocráticas.
Ativos intangíveis -como marca, reputação, credibilidade - passam a ser diferenciais importantes nos negócios. São cada vez mais freqüentes as fusões e aquisições realizadas com base no valor percebido (imagem e reconhecimento público). O gerenciamento de imagem é prioritário em empresas líderes.
As companhias que abrem as portas de comunicação para seus públicos estratégicos (clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, imprensa, governo...) têm suas marcas reconhecidas e começam a adquirir as firmas pouco adaptadas aos novos tempos.
As empresas que investem em comunicação conseguem captar com juros menores em fundos de recebíveis, debêntures, notas promissórias e são melhor avaliadas no mercado acionário.
Empresas interessadas em manter excelente relacionamento com o mercado de capitais devem investir em constante treinamento da equipe e gerar fluxo de informação constante por meio de tratamento especializado no relacionamento com a imprensa.
A falta de uma estrutura de atendimento aos públicos estratégicos passa a mensagem para o mercado de que a empresa que buscou se capitalizar no “boom” de 2007 fazia apenas uma operação especulativa. Essa estratégia reduz as possibilidades de captações menos onerosas de recursos no futuro.
A Comissão de Valores Mobiliários tem feito papel relevante para manter a credibilidade do mercado de capitais ao punir de maneira exemplar as companhias, dirigentes e intermediários que desrespeitam as melhores práticas de relacionamento com o mercado e também as companhias sem compromisso de longo prazo.
Transparência – A transparência é um conceito da Física e é representada pelo vidro. No caso da comunicação no mercado de capitais há a necessidade de uma interação-que não é característica de objetos, como o vidro. A transparência neste caso está ligada à necessidade de ser sincero e franco nas ações, de levar as informações da empresa (as positivas, mas também as negativas) para o mercado e trazer a repercussão (“feedback”) para a companhia. Não é algo estático-como o vidro-, pois exige dinamismo e interação com os “stakeholders” (públicos estratégicos).
Equidade – O mercado de capitais exige tratamento equitativo. São cada vez mais valorizadas as empresas que procuram oferecer benefícios aos minoritários próximos aos propiciados aos controladores nos processos de vendas de participação. As boas normas de conduta induzem a divulgação simultânea de informações a todos os investidores, a constante atualização tecnológica e a adoção das melhores práticas de Políticas de Divulgação e Negociação (dentro da legislação e dos pronunciamentos do CODIM - Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado - http://www.codim.org.br/ ).
Melhores Práticas - A comunicação deve privilegiar os porta-vozes com mais facilidade de comunicação. É cada vez mais frequente a criação de Comitês de Divulgação formados por especialistas multidisciplinares (profissionais de Relações com Investidores, de Comunicação, de Finanças, Departamento Jurídico, sem prejuízo dos demais profissionais interessados) que trazem visões diferenciadas e acompanham a correta execução das normas de divulgação, além de preparar manuais de conduta para situações de crise.
Prestação de contas – Princípio básico para a empresa que tem compromisso de longo prazo com o mercado de capitais é a prestação de contas. Esse princípio se aplica sem dúvida para empresas abertas, mas proporciona correta avaliação em termos de menores juros pagos e maior volume captado em operações de renda fixa, como no lançamento de fundos de recebíveis ou debêntures. Não basta entregar os demonstrativos financeiros em dia. É preciso querer se comunicar com o mercado.
Ouvidoria – O processo de relacionamento com o mercado de capitais exige que as empresas procurem se profissionalizar. É preciso atenção especial em ouvir o investidor, o funcionário, a imprensa e os demais públicos estratégicos. Ouvir o público traz informações importantes sobre a avaliação do mercado e contribui para o gerenciamento de risco da imagem corporativa.
Sustentabilidade – Há 10 anos, as empresas em sua comunicação com o mercado valorizavam a divulgação apenas dos demonstrativos financeiros. Atualmente, os investidores exigem resultados positivos em pelo menos três contas (a chamada “triple bottom line”): rentabilidade, cuidados com o meio ambiente (planeta) e responsabilidade social (pessoas). Nos tempos modernos, a empresa que quer se perpetuar precisa ser lucrativa e preocupar-se em evitar passivos (até mesmo jurídicos) ambientais e sociais.
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* Rodney Vergili é jornalista, economista e diretor da agência Digital Assessoria Comunicação Integrada – http://www.digitalassessoria.com.br

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A correta utilização dos derivativos na gestão de riscos

Artigo de minha autoria Publicado no Valor Economico em 2008. Boa Leitura!

O gerenciamento dos riscos corporativos desde o fim do século XX assume um papel significativo nas atividades desenvolvidas na área financeira. O assunto ganhou notoriedade já que as crises de natureza bancária produziram efeitos negativos no conjunto dos agentes econômicos, por vezes ocasionando risco conjuntural ou sistêmico. O aumento de tal risco provoca situações de crash no sistema financeiro.
Constituíram exemplos desse tipo de evento a crise dos bancos canadenses na década de 70, a crise bancária americana gerada pela moratória mexicana de 1982 e, de forma dramática, a atual crise bancária, a crise do "subprime".
As questões pertinentes ao controle e monitoramento dos riscos no universo das corporações representam hoje uma das principais preocupações para as autoridades supervisoras e para o conjunto dos agentes econômicos que se relacionam direta ou indiretamente com as empresas não-financeiras, com destaque às de capital aberto.
A literatura de finanças, nos últimos anos, tem discutido as questões relacionadas à gestão e mitigação dos riscos das corporações. A abordagem, inicialmente centrada nos riscos de natureza financeira, como taxas de juros e câmbio, tem sido ampliada na direção de identificar os riscos de natureza operacional. Ou seja, relacionados ao core business, influenciados por decisões de natureza estratégica e tecnológica.
Estudos apresentam uma análise sobre o gerenciamento dos riscos em companhias não-financeiras, incluindo a percepção dos gestores financeiros de empresas e a utilização de comparações de dados de diversas economias. Como exemplo, pode-se citar a pesquisa desenvolvida pelo Weiss Center for International Finance Research, da Wharton School, e aplicada em empresas nos Estados Unidos, em 1998, e replicada em outros países, com destaque para o segmento das empresas não-financeiras da Holanda, Grã-Bretanha, Suécia e Coréia do Sul.
A partir dos anos 90 do século XX, uma série de desastres financeiros, como os ocorridos em Condado de Orange, Banco Barings, Metallgesellschaft, Showa Shell e Daiwa, levou a uma reflexão sobre a necessidade do desenvolvimento de modelos capazes de estimar uma perda potencial em determinado período de tempo associado a uma probabilidade específica.
No Brasil, o evento da flutuação cambial, ocorrida no início de 1999, aliado aos escândalos envolvendo instituições financeiras, promoveu dúvidas sobre as operações com contratos derivativos e sua utilização na gestão de riscos, ou seja, na elaboração e implementação do hedge.
O desenvolvimento de uma modelagem e a quantificação do custo do hedge permitem às corporações criar uma métrica numérica para as políticas de gestão e mitigação de riscos corporativos. Essa métrica pode ser utilizada como indicador de governança corporativa, além de sinalizar ao mercado, quando identificada nas publicações contábeis exigidas por lei, o grau de transparência da gestão integrada da empresa. Isso permite, a médio prazo, uma melhor percepção das competências da corporação e facilidade na obtenção de fundos de longo prazo. Como conseqüência, há a valorização de sua marca.
A definição dos instrumentos mais adequados a serem utilizados nesse processo deve ser aderente a uma política de hedge que esteja apoiada nas diretrizes da corporação, respeitando-se os princípios jurídicos institucionais e as boas práticas de governança corporativa.
Embora a utilização de instrumentos derivativos por parte das empresas tenha como objetivo a mitigação dos riscos de balanço, decisões equivocadas ou políticas não apropriadas de hedge suscitam acaloradas discussões sobre o tema. Raramente passa-se um muito tempo sem uma história na imprensa a respeito de uma empresa que teve seu lucro líquido afetado por atividades nos mercados de derivativos.
Recentemente, algumas tradicionais empresas abertas brasileiras divulgaram informações relatando expressivos prejuízos causados por instrumentos derivativos utilizados para hedge, ou seja, para proteger o balanço de riscos excessivos. Dimensionar a correta utilização dos contratos derivativos na gestão de riscos passa a ser preocupação não só dos gestores, mas dos reguladores e, principalmente, dos conselhos de administração, sobretudo em função das novas empresas listadas na Bovespa. Esperamos voltar em breve a este importante espaço para continuarmos nossa reflexão sobre o tema.

Ações para Mitigação do Risco Sistêmico e aumento da oferta de crédito: A Resolução 3692 do Conselho Monetário Nacional

Artigo de minha autoria em conjunto com o Michel Cury. Boa Leitura!

Ações e estratégias de mitigação do risco sistêmico vêm sendo colocados em prática nos mercados financeiros globais pelas autoridades monetárias visando a minimizar a instabilidade dos mercados, evitar corridas bancárias e dentro do possível ajudar a aumentar a oferta de crédito , fortemente em contração em função dos desdobramentos da crise do subprime, que ainda causam grande preocupação ao mundo.
No Brasil , o Banco Central da mesma forma, vem atuando estrategicamente , devolvendo liquidez ao sistema e promovendo as ações necessárias para minimizar os efeitos da crise.
A Resolução 3692 do Conselho Monetário Nacional vem reforçar o arsenal de medidas postas em prática pelo governo com a finalidade de aumentar a capacidade dos bancos pequenos e médios de oferecer um maior volume de recursos para empréstimos em setores específicos que, muitas vezes, não são de interesse de grandes conglomerados financeiros. Essa iniciativa do governo brasileiro tem grande relevância, já que possibilita uma menor volatilidade no saldo médio dos depósitos bancários do sistema como um todo.
De forma preliminar é importante relembrar os fatos que ocorreram após a falência do banco norte-americano Lehman Brothers, anunciada no dia 15 de setembro do ano passado, e que foi considerada a medida que agravou uma crise que já se manifestava há tempos:
1. Forte contração dos volumes de recursos ofertados no mercado interbancário com sérias consequências principalmente para bancos de menor porte;
2. Diminuição dos depósitos bancários do sistema privado com um todo
3. Migração de recursos para títulos públicos ou bancos com controle do Estado.
4. Não renovação de empréstimos de bancos ou empresas brasileiras feitos no mercado internacional
5. Diminuição das linhas para comércio exterior
Esse conjunto de medidas criou um quadro perverso, que impactou diretamente todo o planeta e, como não poderia deixar de ser, está causando estragos também no Brasil. Por isso, foi importante que o governo brasileiro agisse, para evitar que o quadro se tornasse ainda mais grave.
As diversas medidas tomadas pelos órgãos reguladores do País, no quatro trimestre de 2008, conseguiram eliminar o risco de “quebras” no setor financeiro, mas não ficou claro qual horizonte que os bancos, principalmente os médios, poderiam aspirar em um momento extremamente crítico. A questão é importante não só pelo lado das médias instituições financeiras, mas também porque elas são a principal fonte de financiamento principalmente de pequenas e médias empresas.
A resolução 3692 aprovada no dia 26 de março, sem dúvida, ajuda os bancos médios. No entanto, essa certeza não afasta a necessidade de que a iniciativa seja analisada com muita cautela.
A resolução permite a liquidez dos títulos emitidos por bancos após o prazo de 6 meses. Deve-se ter em vista que essa liberdade, se não for bem dosada, pode se transformar em um problema futuro. Não se pode esquecer que em um momento deestresse os detentores desse tipo de depósito bancário podem solicitar o saque tanto para recompor uma posição no caixa como para saída de um risco.
O instrumento servirá para fazer captações de longo prazo (ou seja, acima de 24 meses), viabilizando as operações de varejo (de longo prazo) dos bancos médios.
Essas características significam que os bancos que decidirem operar apenas no segmento de médias empresas irão manter a captação de curto prazo e podem não se interessar pela utilização desse instrumento.
Algumas perguntas sobre esse assunto ainda estão sem resposta até o momento e merecem uma reflexão. Entre elas, destacam-se:
- Qual a taxa média de atratividade dos aplicadores?
- Essa taxa viabiliza as operações dos bancos?
- Se a não-liquidez dos depósitos é interessante para os bancos e ruim para os clientes institucionais, como equilibrar essa situação?
- Como prever os volumes de resgate no futuro?
Esperamos em breve voltar a este importante espaço para discutirmos o tema, de grande interesse para todos.
Artigo publicado no DCI dia 22/04
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*Ricacardo Humberto Rocha e Michel Cury Chain

A queda da taxa Selic, qual o piso a ser Testado?

O Banco Central decidiu em sua última reunião do COPOM reduzir os juros básicos para 10,25 % a.a, e como era de se esperar não agradou de forma unânime.O Mercado agora começa a fazer suas apostas em um possível novo corte, que traria a taxa básica pela primeira vez na história do comitê, que teve inicio em 1996 para um dígito.O que você pensa a esse repeito?
Envie seu comentários para que possamos debater!