sexta-feira, 1 de maio de 2009

A correta utilização dos derivativos na gestão de riscos

Artigo de minha autoria Publicado no Valor Economico em 2008. Boa Leitura!

O gerenciamento dos riscos corporativos desde o fim do século XX assume um papel significativo nas atividades desenvolvidas na área financeira. O assunto ganhou notoriedade já que as crises de natureza bancária produziram efeitos negativos no conjunto dos agentes econômicos, por vezes ocasionando risco conjuntural ou sistêmico. O aumento de tal risco provoca situações de crash no sistema financeiro.
Constituíram exemplos desse tipo de evento a crise dos bancos canadenses na década de 70, a crise bancária americana gerada pela moratória mexicana de 1982 e, de forma dramática, a atual crise bancária, a crise do "subprime".
As questões pertinentes ao controle e monitoramento dos riscos no universo das corporações representam hoje uma das principais preocupações para as autoridades supervisoras e para o conjunto dos agentes econômicos que se relacionam direta ou indiretamente com as empresas não-financeiras, com destaque às de capital aberto.
A literatura de finanças, nos últimos anos, tem discutido as questões relacionadas à gestão e mitigação dos riscos das corporações. A abordagem, inicialmente centrada nos riscos de natureza financeira, como taxas de juros e câmbio, tem sido ampliada na direção de identificar os riscos de natureza operacional. Ou seja, relacionados ao core business, influenciados por decisões de natureza estratégica e tecnológica.
Estudos apresentam uma análise sobre o gerenciamento dos riscos em companhias não-financeiras, incluindo a percepção dos gestores financeiros de empresas e a utilização de comparações de dados de diversas economias. Como exemplo, pode-se citar a pesquisa desenvolvida pelo Weiss Center for International Finance Research, da Wharton School, e aplicada em empresas nos Estados Unidos, em 1998, e replicada em outros países, com destaque para o segmento das empresas não-financeiras da Holanda, Grã-Bretanha, Suécia e Coréia do Sul.
A partir dos anos 90 do século XX, uma série de desastres financeiros, como os ocorridos em Condado de Orange, Banco Barings, Metallgesellschaft, Showa Shell e Daiwa, levou a uma reflexão sobre a necessidade do desenvolvimento de modelos capazes de estimar uma perda potencial em determinado período de tempo associado a uma probabilidade específica.
No Brasil, o evento da flutuação cambial, ocorrida no início de 1999, aliado aos escândalos envolvendo instituições financeiras, promoveu dúvidas sobre as operações com contratos derivativos e sua utilização na gestão de riscos, ou seja, na elaboração e implementação do hedge.
O desenvolvimento de uma modelagem e a quantificação do custo do hedge permitem às corporações criar uma métrica numérica para as políticas de gestão e mitigação de riscos corporativos. Essa métrica pode ser utilizada como indicador de governança corporativa, além de sinalizar ao mercado, quando identificada nas publicações contábeis exigidas por lei, o grau de transparência da gestão integrada da empresa. Isso permite, a médio prazo, uma melhor percepção das competências da corporação e facilidade na obtenção de fundos de longo prazo. Como conseqüência, há a valorização de sua marca.
A definição dos instrumentos mais adequados a serem utilizados nesse processo deve ser aderente a uma política de hedge que esteja apoiada nas diretrizes da corporação, respeitando-se os princípios jurídicos institucionais e as boas práticas de governança corporativa.
Embora a utilização de instrumentos derivativos por parte das empresas tenha como objetivo a mitigação dos riscos de balanço, decisões equivocadas ou políticas não apropriadas de hedge suscitam acaloradas discussões sobre o tema. Raramente passa-se um muito tempo sem uma história na imprensa a respeito de uma empresa que teve seu lucro líquido afetado por atividades nos mercados de derivativos.
Recentemente, algumas tradicionais empresas abertas brasileiras divulgaram informações relatando expressivos prejuízos causados por instrumentos derivativos utilizados para hedge, ou seja, para proteger o balanço de riscos excessivos. Dimensionar a correta utilização dos contratos derivativos na gestão de riscos passa a ser preocupação não só dos gestores, mas dos reguladores e, principalmente, dos conselhos de administração, sobretudo em função das novas empresas listadas na Bovespa. Esperamos voltar em breve a este importante espaço para continuarmos nossa reflexão sobre o tema.

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