domingo, 10 de maio de 2009

Esforços para aperfeiçoamento do mercado de capitais em 2009

Publicamos hoje excelente artigo de Sérgio Tuffy Sayeg. Boa Leitura !

Ficou para o passado a abundância de recursos financeiros resultante das extraordinárias condições alcançadas pelo mercado de ações e os benefícios que haviam sido obtidos por grande número de empresas brasileiras que puderam, especialmente em 2006 e 2007, e ainda em raros casos durante 2008, captar volume de recursos sem precedentes para impulsionar o desenvolvimento de seus negócios.
Agora não parece tão difícil abrir os olhos para o que terá sido uma euforia excessiva naqueles momentos de ampla disponibilidade de capitais, em que chegavam a se realizar, na mesma semana, três ou quatro distribuições de ações.
As empresas emissoras poderiam, até em muitos casos, ter seus nomes conhecidos do público, mas em geral tinham seus fundamentos estratégicos, econômicos e financeiros praticamente ignorados.
Desde o início do movimento negativo originado pelos desdobramentos da crise verificada nos mercados imobiliário e financeiro norte-americanos, sucedida pela forte queda dos preços das commodities e a repercussão instantânea nas taxas de crescimento da economia global, as companhias brasileiras já vinham se deparando com um cenário adverso que requeria cuidados na gestão.
Tornaram-se públicos marcantes episódios de falta de responsabilidade da alta administração de emblemáticas companhias, que não atendiam aos mínimos requisitos de acompanhamento e controle de seus negócios e de suas finanças, repetindo, em momento inédito de escassez de recursos e alta volatilidade, condutas que no passado teriam apresentado resultado favorável.
Os investidores também demonstraram sua miopia e despreparo, pressionados que estavam com o difícil gerenciamento de suas carteiras e respectivos fluxos financeiros, sem mergulhar mais fundo no acompanhamento das empresas investidas além do que era visível sobre o passado, com a divulgação em periodicidade trimestral determinada pelas normas em vigor.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como autoridade, e as entidades de mercado que compõem o arcabouço da nossa tão festejada autorregulação também terão tido sua participação, com a falta de perspicácia e cuidados prudenciais no monitoramento da situação.
Mesmo com o avançado estágio que nossos mercados alcançaram, é notório que são também imprescindíveis o aperfeiçoamento das normas regulamentares e do posicionamento das empresas em relação aos riscos de diversas naturezas a que estejam expostas.
Todos devemos fazer sincera autocrítica e reflexão sobre os erros vividos e não deixar de aproveitar para fortalecer os importantes pilares até agora construídos, que serão muito importantes no momento da regularização do fluxo de recursos, que naturalmente privilegiará quem se demonstrar mais preparado para o maior rigor e senso crítico dos detentores de capital.
Não será recomendável confiar na tradicional falta de memória dos participantes do mercado, e na crença de que o lado negativo da história não se repetirá.
As empresas deverão se apresentar para essa fase de retomada com uma governança corporativa presente não apenas nos discursos e nos textos, mas sob a condução de um conselho de administração genuinamente profissional, pautado por efetiva competência técnica, profundidade analítica e dedicação. A diretoria executiva, sob uma liderança preparada, deverá comprovar sua capacidade em tempos difíceis e apresentar sintonia entre todos os setores e níveis da companhia, suportada por controles internos sofisticados mas capazes de ser acompanhados no dia-a-dia. Imprescindível também será a postura ética e de absoluta transparência, para buscar reconquistar a confiança de todos os stackeholders.
A vida corporativa, enfim, terá que ser diferente em 2009.
Com o envolvimento de todos os participantes e esforços contínuos para rápida adaptação a novas circunstâncias que surgirão, resultados positivos certamente serão alcançados e contribuirão para continuidade do fortalecimento do nosso mercado de capitais.
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* Sérgio Tuffy Sayeg é administrador pela FEA – USP e profissional do mercado financeiro e de capitais desde 1976. Conselheiro de Administração e Conselheiro Fiscal de empresas. Professor de cursos do IBMEC RJ e da Fundação Instituto de Administração – FIA.
Artigo publicado na “Gazeta Mercantil” em 19 de janeiro de 2009.

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